Fraca. Se Helena pudesse ser descrita em uma palavra, esta
seria "fraca". Branca demais, magra demais, indefesa demais. Às vezes
tinha a impressão que seus próprios passos poder-lhe-iam quebrar as pernas. Era
de longe a ponta mais fraca da corda, apenas esperando que alguém viesse cortá-la.
Não falava, não sorria, não amava, mas escrevia. Enquanto caminhava com suas
pernas finas e brancas pela rua, olhando para a ponta de seus sapatos, em sua
mente podia enxergar centenas de palavras alvoroçadas para saírem. Implorando
para que fossem libertadas. No mundo real Helena sabia que não tinha chance de
mostrar a todos a grandeza da sua dimensão paralela, então apenas se calava e
escrevia. Em seu interior havia uma dominadora que organiza e manuseava letra
por letra, obrigando-as a se encaixarem e formarem a história que ela precisava
contar, nem que fosse pra si mesma.
Nunca teve ponte com o mundo real,
nunca quis fazer parte deste lugar. Sentia-se descartável. Não tinha país,
irmãos, amigos, e seu único contato com o amor era o que inventava e
datilografava em sua máquina velha. No entanto mesmo com toda essa aversão, queria
deixar seu legado. Nas poucas horas em que passava longe daquela velha máquina,
se questionava quanto a existência de alguém semelhante a ela no mundo. Olhava
para cima e procurava por alguém que partilha-se dessa mesma fissura de
querer estar dentro de si, no próprio reino. Talvez um garoto, ou uma futura
geração de sua própria família; Talvez alguém que falasse outro idioma, em
outro fuso-horário. Independente de como ou quando encontrasse, sabia que
encontraria, e então escrevia. As vezes por mais de oito horas, até que seus
dedos inchassem e calejassem. Queria deixar sua marca na história,
queria ter uma história, ou várias. No final de cada obra fazia questão de
pegar o batom vermelho, aquela única lembrança que havia sobrado de sua mãe já
falecida, e o passava cuidadosamente pelos lábios sempre pálidos. Segurava o
papel como quem segura a vida e o beijava delicadamente. Como se entregasse
parte de sua alma e todo o seu amor. História por história. Pilha sobre pilha,
até o fim de sua vida.
Os escritos de Helena nunca foram
editados, publicados, ou reconhecidos como obras de arte e grandes
contribuições para a literatura do país. Mas foram encontrados... Por mim, em
uma pequena casinha abandonada. Papéis amarelados, paredes úmidas, insetos
ameaçadores por todos os lados. Definitivamente não havia sopro algum de vida
naquele lugar. Apenas histórias datilografadas, rabiscos pelas paredes e uma
velha máquina de escrever de cor verde que agora possuía ferrugem e teias de
aranha.
Gosto de imaginar que ela está
compactada em suas histórias, esperando que alguém apareça e leia seus
escritos, compreendendo sua complexidade, amando-a e fazendo-a se sentir viva
como nos contos que escrevia fervorosamente. Vibrante como o contorno de sua
boca avermelhada, que a fazia se sentir pela primeira vez forte, pela primeira
vez como um personagem real. Era Helena, não de Troia, nem de Esparta, nem de
nenhum outro homem, era apenas Helena. Helena dos livros, era a Helena senhora
de si mesma.
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