Resenha do livro de Francesco Carnelutti - As Misérias do Processo Penal
O livro “As Misérias do Processo
Penal", foi escrito no ano de 1957, pelo célebre advogado e jurista italiano
Francesco Carnelutti. A obra consegue descrever com peculiaridades de detalhes
todas as fases do processo penal, desde a identificação do duo acusação e
defesa, até a postura adotada pela sociedade em face do ex-presidiário com o
mundo exterior e seu processo de readequação a sociedade.
Temos a princípio o conceito de
jurisdição do juiz, no qual Carnelutti explica que por mais aparentemente
hediondo que um caso se defronte ao juiz, o mesmo, como guardião do conceito de
justiça, deve sempre sentenciar em nome da preservação da paz e do bem comum.
Quanto aos advogados e ao Ministério Público, ficam estes incumbidos de
guerrear, desmanchando os argumentos adversários; são os autênticos sofistas,
construindo suas teses a partir do núcleo do conflito réu versus acusado. Esta
lide é o que configura um processo penal, uma vez que sem esta divergência é
impossível até mesmo falar de explanação do caso ou veredicto.
Passado do entendimento básico da
necessidade do processo penal e de todas as suas vértices, entraremos agora na
questão do funcionamento do julgamento de um processo penal, dando atenção a
questão da utilização da toga, que é muito mais profunda do que sua atual
figura de meramente burocrática. A toga tem como princípio a diferenciação das
partes, ou seja, a divisão entre acusador e defesa, e o juiz como o resoluto
que dará o parecer final. Ironicamente eles estão divididos, no entanto unidos
por uma classe, a classe dos operadores do Direito.
Configurado o cenário em que se
dá o processo penal, temos agora o centro do conflito, o réu, caracterizado
como a parte maquiavélica, o monstro, o hediondo, através dos tempos
classificado paulatinamente como o individuo merecedor da pena cruel e
irredutível. Esta nomenclatura lhe parece conveniente quando se trata de um
caso de grande repercussão ou um fato ocorrido dentro de seu âmbito familiar,
no entanto os operadores do Direito tanto a parte da acusação, como a parte da
defesa e do juiz devem ter a equidade de levar em consideração todos os fatores
que acarretaram o crime. O que ocorre é que em diversos casos os delitos
cometidos, refletem como um grito de indignação ou um pedido ajuda, quando
aparentemente para o réu não existe outra saída eminente. É claro que este
pensamento não pode ser genérico, mas dentro do processo penal nada que é
humano deve causar estranheza, e deve ser levado em conta que diferentemente de
outras áreas do direito, o direito penal lida diretamente com o núcleo interno
de cada um de seus integrantes, que por muitas vezes se encontram transtornados
por inumeráveis fatores. Sendo assim, é importante que os defensores dos
direitos fundamentais, não esqueçam que infringindo os direitos fundamentais e
a dignidade do réu, tornam-se tão merecedores de punição quanto o designado
criminoso.
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